Uma reverência à ancestralidade

O Jongo de Campinas e o resgate da cultura afro-brasileira

Letícia Scaglia
2 min readOct 20, 2021
A reza do terço faz parte do Jongo e é uma tradição de Dito Ribeiro (Foto: Fabiana Ribeiro)

O Jongo é uma manifestação afro-brasileira vinda do meio do século XIX que reverencia a ancestralidade. Nasce aqui no Brasil com a organização dos negros escravizados que vieram da região do Congo-Angola, do tronco linguístico Ubanto, que traz algumas características para o Jongo. Uma delas é a metáfora.

O Jongo é um jogo de pergunta e resposta, tudo que é cantado numa roda de Jongo precisa ter um sentido. O Jongo é vivo, pois a ancestralidade é viva. As memórias são vivas e se manifestam por meio do Jongo. “Acho importante apresentar esse contexto antes de contar a história da Comunidade”, explica Vanessa Dias, 37 anos. Mulher negra, religiosa de Matriz Africana, educadora social, pedagoga, mestranda na Unicamp e uma das responsáveis por manter a Comunidade Jongo Dito Ribeiro viva e resistindo. Foi ela que me concedeu uma entrevista de duas horas que mesmo através da tela de um computador não perdeu sua potência.

A história da Comunidade Jongo Dito Ribeiro

O legado do Jongo começa com Dito Ribeiro na década de 30 e teria partido junto com ele, na década de 60, se sua neta Alessandra Ribeiro — nascida 3 anos após sua morte — não tivesse recebido um chamado.

Mãe Alessandra, como é carinhosamente chamada por Vanessa, não chegou a conhecer o avô e sabia muito pouco sobre ele. Sabia que era um bom cozinheiro e que tinha trabalhado nas linhas férreas em Campinas. Só.

Filha de Dona Maria Alice, professora, e Seu Luís, ex militar — ambos pretos -, Alessandra utilizou essas profissões durante sua infância e adolescência para se defender do racismo, mas nunca tinha refletido a fundo sobre a questão racial. Foi na fase adulta — quando trabalhava em um Shopping exercendo cargo de liderança, mas se deparou com a nomenclatura “auxiliar de serviços gerais” em sua carteira de trabalho — que entendeu haver algo errado e saiu pela cidade em busca de respostas. Nessa busca, se deparou com movimentos sócio culturais como o Urucungos e a Casa de Cultura Tainã sendo liderados por pessoas pretas.

Na Tainã conhece Daniel Reverendo, pesquisador da cultura popular que, à época, estava estudando o Jongo do Tamandaré (Guaratinguetá-SP). Isso desperta em Alessandra a vontade de criar um grupo para pesquisar as várias manifestações em Campinas, pois tinha vivenciado algumas e queria saber mais. Foi dessa vontade que nasceu, em 2002, um grupo de pesquisadores que, mais tarde, veio a se tornar a única comunidade de Jongo de Campinas. Vanessa conta um pouco sobre o início dessa história no vídeo abaixo.

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